domingo, 3 de dezembro de 2017

O Julgamento




Antes eu tinha uma tendência a julgar os outros, a dar conselhos, a achar que tinha razão. Na verdade sempre tive uma intuição afiada e raramente falhava no julgamento que fazia das pessoas e isso de certa forma cegava-me para outras coisas, afastava algumas pessoas, criava-me um sentimento de superioridade ás vezes. Na verdade lembro-me de situações que amigas minhas preferiam não me contar as coisas por medo do meu julgamento. Sempre me achei íntegra, honesta, humilde e amiga, mas confesso que era também uma grande juíza. Era a juíza dos outros e de mim mesma, principalmente de mim mesma. Eu julgava-me tanto, massacrava-me mesmo, punha-me para baixo, impedia-me de seguir em frente com confiança.

Acredito que essa tendência que eu tinha de me julgar muito, de não me achar boa o suficiente, tem a sua origem na minha infância, nas experiência que tive, ou que não tive. O ponto é que cresci assim, só me sentia confiante nos ambientes que conhecia, com as pessoas que conhecia. Assim que saísse dessa zona de conforto lá vinha a juíza e eu lá me encolhia. O autojulgamento era prejudicial para mim e obviamente ao projectá-lo nos outros também poderia ser prejudicial para eles também. Cada julgamento que eu fazia a alguém tinha a ver comigo, essa é a verdade. Falar da roupa, do cabelo, da atitude, da postura, etc, etc...Tudo tinha na verdade a ver comigo! De uma forma ou de outra eu projectava os meus próprios julgamentos nos outros. O engraçado é que por várias vezes achava que fazia isso numa espécie de expressar a minha opinião, o meu ponto de vista, então, estava tudo bem. Mas hoje sei que nem sempre há necessidade de exteriorizar a nossa opinião, ponto de vista, etc, se fazendo isso não contribuímos positivamente, para melhoria, colocamos o outro para baixo, contribuímos para minar a sua autoestima. O silêncio é um poderoso aliado e nos permite tomar decisões mais assertivas e conscientes.

Hoje vejo que cada julgamento que fazia ou que achava que os outros faziam de mim, era na verdade uma ferida minha. Ao fazer uma fofoca, uma crítica destrutiva, eu estava a falar de mim. Tomar consciência disso foi duro, doeu mesmo. Porque não ia de encontro com aqueles que eram os meus princípios, aquilo que eu achava que eu era. Ao falar mal de alguém eu não estava a ser íntegra, mesmo que esse alguém fosse alguém que não gostasse, não tinha o direito de julga-lo e muito menos partilhar o meu julgamento com outras pessoas. O que se pretende no fundo quando se faz uma fofoca sobre alguém? Coisa boa não é, por mais que conscientemente a pessoa não queira fazer mal ao outro. Um exercício que comecei a fazer para perceber se o que falo sobre alguém é ou não fofoca foi sempre perguntar a mim mesma se poderia falar exactamente a mesma coisa se a pessoa estivesse presente. Remédio santo! (Rs)

O que vemos nos outros existe em nós! Essa frase é das mais duras de se ouvir e de se reflectir nela. Digo por experiência própria. Nós projectamo-nos nos outros, no mundo, daí que a nossa visão do mundo é nossa, tem a ver com o que temos dentro de nós. Comecei a prestar atenção a cada julgamento que fazia, mesmo sem expressar, procurava o que de meu teria ali. As vezes não é algo na nossa personalidade, mas naquilo que acreditamos, naquilo que aprendemos, naquilo que vivemos (que acaba moldando a nossa personalidade), naquilo que verdadeiramente queremos mas ao mesmo tempo achamos que não podemos querer. Então uso a minha tendência a julgar a meu favor, para o meu autoconhecimento e tenho conhecido muito sobre mim assim. Até sobre desejos ocultos que o meu juíz interior abominava, mas que a minha essência adorava hahahaha.

De uns tempos para cá venho aprendendo a prestar atenção aos julgamentos que faço. Uma técnica que implementei para parar de julgar o outro e a mim mesma, foi colocar-me no lugar do outro (olhar também para mim, sem ideias pré-formadas), activar a compaixão pelo outro (e por mim), compreender o outro (e a mim mesma). Isso tem me ajudado bastante, tem me ensinado a definir as situações em que colocar um ponto de vista, uma opinião, um conselho, pode ser útil positivamente para ambas partes. Outra coisa que me tem ajudado a diminuir bastante a tendência ao julgamento é a aceitação. Aceitar a mim mesma como sou e aceitar o outro como ele é.  Não tenho o poder nem o direito de mudar o outro, posso mudar a mim mesma, melhorar-me, mas não ao outro. Aceitar o outro, compreendê-lo, desenvolver o amor incondicional é o suficiente para não querer julgar.

Hoje passei de uma grande fofoqueira (de coisas boas na maioria das vezes hehehehe, mas fofoca na mesma) para uma pessoa menos juíza, mais receptiva, mais compassiva, mais humana. É incrível como do nada comecei a sentir-me desconfortável quando me sentia na obrigação de opinar numa fofoca, algo que fazia sem pestanejar antes. Hoje prefiro sempre tirar da minha boca, e colocar na minha mente, apenas aquilo que diria se a pessoa em questão estivesse presente, ou ficar em silêncio. É um processo, que ainda estou a aprender, ás vezes a pressão da fofoca é maior (raramente ultimamente! hahahaha). Mas essa é a minha verdade hoje. Julgar para quê? Cada um tem o direito de viver a sua vida como bem entender e eu não sou juíza de ninguém. Certo ou errado é relativo e baseado nos valores e crenças de cada um, nas prioridades de cada um. Desde que não faça mal ao outro, está tudo bem! Desde que o deixe de bem consigo mesmo, está tudo bem! É a verdade que escolhi viver, respeitando sempre a verdade dos outros.

Atenção que o autojulgamento ás vezes é necessário, é o nosso crítico interno, o que temos que saber é usa-lo a nosso favor. Captar o que ele tanto critica e procurar soluções para melhorar e não apenas sentir-se paralisado com o seu pessimismo.

Essa é a maneira que lido com o julgamento, espero que seja útil para si, que ainda se debate com ele e queira ver-se livre. Espero também aprender mais com as suas experiências nesse assunto. Como lida com o julgamento?

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